DANI BALBI: EDUCADORA
Nascida no bairro do Engenho da Rainha, na Zona Norte do Rio de Janeiro, Dani Balbi é um exemplo vivo de como a educação pública, quando aliada à luta social, pode transformar trajetórias e reescrever futuros. Mulher transexual, negra, comunista e oriunda da periferia, Dani encontrou na escola pública e na militância política os caminhos para revolucionar sua vida — e, por consequência, ajudar a transformar a realidade da juventude, sobretudo aquela que, como ela, enfrenta as marcas da exclusão social, do preconceito e da violência institucional.
Toda sua formação acadêmica foi construída dentro da rede pública. Cursou o ensino fundamental e médio em escolas estaduais e, a partir de 2007, iniciou sua longa e brilhante jornada na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde concluiu o Bacharelado e a Licenciatura em Letras — Português e Literatura. De 2012 a 2014, cursou o Mestrado em Ciência da Literatura, também pela UFRJ, e de 2015 a 2019 concluiu o Doutorado com a tese “A subtração do trabalho e da história no drama social contemporâneo: de black-tie a tênis naique”, um trabalho que evidencia sua preocupação com os rumos da arte, da crítica literária e das contradições do tempo presente. Em 2025, voltou à universidade para realizar seu Pós-Doutorado em Cinema, TV e Vídeo, com previsão de conclusão para março de 2026.
Foi na militância estudantil que Dani iniciou sua trajetória política, desde muito jovem, ainda como estudante secundarista. Ao perceber a importância de se organizar e lutar contra a desigualdade que a cercava, decidiu pela filiação precoce à União da Juventude Socialista (UJS), maior escola de formação política da América Latina. Sua histórica militância no Partido Comunista do Brasil (PCdoB), partido ao qual nunca deixou de pertencer, reafirma o elo profundo entre sua trajetória pessoal e seu engajamento coletivo. Fruto da sua militância da UJS, Dani Balbi se formou politicamente e participou como militante de base nas lutas da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES), da União Nacional dos Estudantes (UNE) e da Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG), entidades com as quais mantém laços até hoje. Seu envolvimento com essas organizações nasceu do compromisso com a defesa de uma educação pública, gratuita, laica, democrática e de qualidade para todos, todas e todes.
Antes de se tornar parlamentar, Dani também fez da sala de aula seu espaço de transformação. Em 2011, lecionou Redação no pré-vestibular social do CEDERJ e Literatura no Curso Pré-Universitário da UFRJ (CPU). Deu aulas no Sistema de Ensino Gau, na Vila da Penha, entre 2012 e 2015. Entre 2016 e 2019, foi professora de Literatura no Colégio de Aplicação da UFRJ (CaP-UFRJ), onde protagonizou uma comovente história de acolhimento e respeito durante sua transição de gênero. Foi abraçada pelos estudantes, que a acompanharam com solidariedade e afeto, em um gesto que correu o país como um exemplo da potência transformadora da educação aliada à diversidade.
Dani foi a primeira mulher transexual a obter o título de Doutora em Ciência da Literatura pela UFRJ e também a primeira professora trans da Escola de Comunicação da universidade. Em todas essas funções, ela reafirma a força da presença trans nas universidades públicas e a urgência de políticas afirmativas que garantam acesso e permanência a essa população. Por isso, é autora do projeto de lei que institui cotas para pessoas trans no ensino superior do estado do Rio de Janeiro, iniciativa que busca romper com o ciclo de abandono e marginalização historicamente imposto a essa comunidade.
Eleita deputada estadual pelo PCdoB, com mais de 65 mil votos em 2022, Dani Balbi tornou-se a primeira parlamentar transexual da história da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (ALERJ). Sua atuação como deputada mantém o compromisso de uma vida inteira com a educação e com os direitos do povo.
Roteirista, educadora, intelectual e militante incansável, Dani é hoje uma das vozes mais firmes em defesa da escola pública, da universidade gratuita e da valorização da ciência e do pensamento crítico. Sua vida é uma afirmação concreta de que, mesmo diante das maiores barreiras, é possível construir um futuro justo e inclusivo — desde que se tenha coragem, consciência e educação como ferramentas de luta.